Quando começamos a pensar em um negócio para a terceira idade, ouvimos algumas vezes de outras pessoas que essa ideia não fazia sentido… – na época, pouco se falava da Silver Economy.
As pessoas diziam que deveríamos fazer outra coisa… “afinal, este público está mais próximo da morte – não tem como uma empresa dar certo assim, você investe no cliente e logo tem de buscar outro”. Uma forma cruel de se pensar – e pouco espiritualizada no nosso ponto de vista particular.
Acontece que daqui para as próximas décadas a população 65+ vai crescer exponencialmente, em 20 anos dobraremos o número de idosos no Brasil. E se não for por generosidade e amor ao próximo que você vá fazer algo, que seja agora pelo viés mercadológico, pois esse já é um mercado enorme – e que só deve crescer mais nos próximos anos.
Quando criamos a Vívida, fomos justamente contra a visão predominante do mercado de consumo, visando o envelhecimento saudável – afinal se teremos de chegar lá, de uma maneira ou outra, que seja com saúde, bem-estar e curtindo a vida adoidado. Nossos serviços não somente SÃO para as pessoas acima de 65 anos – nossa cliente mais longeva tem 99 anos! – mas também focam na VIDA.
Em contraposição a essa crença de que “para eles acabou”,… nós ensinamos tecnologia, jogamos, acompanhamos em compras e outras atividades do dia a dia, conversamos e rimos até perder a hora.
Queremos trazer mais vida a essas pessoas, porque acreditamos que o usual ainda é olhar para elas como alguém doente.E estamos vivendo esse sonho (que estamos descobrindo ser muito real) junto com nossos clientes.
Na Vívida, afastamos um pouco a nossa conversa da morte. Não que ela seja necessariamente ruim, a depender da sua crença, mas achamos que também há outras cousas a se fazer do que apenas sentar e esperar por ela.
Esta semana porém, uma de nossas clientes, faleceu: Dona Irene, 88 anos. Fomos pegos de surpresa… Irene tinha muita vida em si, muito a viver. Era culta, entendia de arte e história, conhecia de Victor Brecheret a Anita Malfati e parecia ter na lembrança de forma fresca boa parte de sua memória artística do Modernismo.
Nesse post, fizemos um relato da vivência que tivemos com ela em 29 de setembro do ano passado. Em uma atividade de passeio, ela e Dona Vilma foram acompanhadas de duas jovens à Pinacoteca do Estado de São Paulo. Ali, aprenderam sobre arte e ouviram a história de como surgiu aquela construção centenária.
Irene parecia relembrar seus estudos e ativar fatos longínquos na história em cada cantinho que parávamos para conversa. Ela tinha informação sobre muitas da coisas ali mencionadas, e comentava o que sabia da história. Quando não sabia, apenas ouvia e sorria de forma delicada e serena.
Era colecionadora de obras de arte, paisagista e apaixonada por arquitetura e decoração – por isso o passeio, acompanhado dos Anjos, havia sido um presente dado por uma de suas filhas, Vírginia, em seu aniversário.
“Não consigo nem dizer quanto feliz estou, obrigada por esse dia lindo” – e me deu um beijo dentro do carro, antes de ir.
Vai em paz, Dona Irene. Tem um lugar de luz ali na chegada…